quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Seguindo em frente

 A vida é tão efêmera, não?

Um acidente... Uma doença... A ação de um desesperado... A ação de um mal intencionado... A simples e definitiva hora determinada... São tantas as causas possíveis pra uma separação. As vezes existe luto. As vezes nem ficamos sabendo. Mas fato é que todos que passam por nossas vidas passaram ou passarão pela última vez. Não é algo que pensamos muito, mas é algo que naturalmente sabemos.

É claro que existem outras causas menos derradeiras para nunca mais vermos alguém, como uma mudança de rota, uma mudança de endereço, ou apenas o acaso, mas é fato que todos com quem nos encontramos, nos encontrarão uma última vez. E o que fazer com essa informação?

É bonito dizer coisas como "não esqueça de dizer o que sente", ou "valorize cada bom momento", ou mesmo "não deixe que um momento ruim determine o significado de toda uma vida juntos". Mas esse não é o foco, agora. Frases de efeito já existem aos montes, e todos nós as ouviremos mais de uma vez.

Do que venho falar agora, é de um último desejo, caso este seja o meu último recado para o mundo. Não que eu pretenda me despedir agora! Longe disso. Porém, comecei ressaltando quão fácil é que deixemos de fazer parte das vidas uns dos outros.

Pois bem. Se é que alguém lerá estas palavras soltas, jogadas ao tempo, pra serem logo esquecidas, eis o que quero de quem se importa: não lamente.

Pode parecer frieza, ou mesmo hipocrisia, pedir que não chorem a minha ausência. Não penso em pedir que não sintam saudades. Nem quero realmente que me esqueçam, no momento em que eu partir. Apenas que eu sei que não sou realmente necessário, a partir do momento em que parti. Na verdade, mesmo quando passei por vocês e fiz algum bem, prestei algum socorro, ajudei de alguma forma, ou só fiz alguma diferença na proporção em que a vida foi a gradavel ou menos difícil, eu nunca fui necessário. Como diz a música "cada ser carrega o dom de ser capaz e ser feliz". E se as coincidências da vida me trouxeram porque você precisava de alguém, quando este mesmo alguém desaparece, é sinal de que você já não precisa mais.

A morte é parte da vida, e principalmente, a morte alheia pertence a todo ser que se lembra dela de alguma forma. Toda ausência sentida carrega um significado. Se existe algum lamento quanto a algo que deveria ter sido dito, já não é hora de se arrepender. "Não chore sobre o leite derramado". Que a saudade seja nostalgia, e não uma perda. Que os bons momentos sejam lembrados com carinho, e os maus, com reverência e aprendizado, pois nada foi por acaso.

Se algum insulto precisava ser dito, diga-o então, mesmo que eu não possa mais ouvi-lo. Me amaldiçoe e me esqueça, pra que eu não seja um fardo que você não precisa carregar. Você nunca precisou me carregar, se eu era dor.

E quando o momento chegar em que eu não sou mais uma memória, senão uma vaga lembrança, que não haja culpa: "O tempo se encarrega de levar tudo..."

Não tome como certo o tempo em que aproveitou o que quer que eu tenha a oferecer. Apenas aprenda algo, pra ser melhor do que fui, ou poderia ter sido. Que ninguém lamente ter me conhecido, me amado ou mesmo me desprezado.

Agradeço todos os que passaram por mim. Os que deixaram marcas, os que deixaram cicatrizes, os que não deixaram nada, agradeço todos. Farei o possível para não lamentar os que forem antes de mim, e continuarei os amando, do meu jeito.

...

Caso nos vejamos de novo, até lá. A quem não verei mais, adeus. Bora tocar em frente.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Festa em casa

 Eu estava lá, mas eu não existia. Havia familiaridade, mas eu não pertencia àquele lugar. Eu era espectador da minha própria vida. Estava esperando por uma mudança de rumo.


Eu estava lá, mas não devia. Eu precisava daquela companhia, devia aproveitar. Mas eu não era companhia pra aquela conversa.


Eu estava lá, mas não existia. Não havia outro lugar onde eu poderia haver, mas eu também não estaria ali.


Havia eu. Mas eu não estava ali.


Onde eu posso existir de verdade?

sexta-feira, 2 de julho de 2021

"Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar.

Nesta rua, nesta rua tem um bosque que se chama, que se chama Solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração.

Se eu roubei, se eu roubei teu coração, tu roubaste, tu roubaste o meu também. Se eu roubei, se eu roubei teu coração, é porque, é porque te quero bem."

Se roubei teu coração, não tive intenção.
Eu estava perdido, com o coração destruído.
Tanto tempo passado, com ele quebrado,
Já não sabia dizer que formato deveria ter.

Se roubei teu coração, se o tive nas mãos,
Estava apenas procurando, sem saber ao certo o que.
Acabei encontrando, sem ao menos perceber,
A forma perdida do meu castelo ruído.
A referência, a aparência, para reconstruí-lo.

To devolvo agora! Toma sem demora!
Então resposta  ao que me pede, não serei sutil!
Tens o tamanho, mas não a forma, pra encher o meu vazio!

Preciso partir, não sei quando volto. Não me siga! Siga a vida! O mundo é redondo, e correndo de quem não me persegue, o reencontro será no local da despedida. Não me espere! O imprevisível é o caminho escolhido! Mas se vivermos o bastante, nos veremos novamente. E seremos melhores.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Aqueles cabelos brancos...

 Numa conversa sobre efemeridades, gastando o tempo que não volta com coisas que não trazem lucro para serem consideradas investimento, mas que com certeza se trata de um tempo bem gasto, de repente tive os olhos atraídos pra'queles cabelos brancos...


Tudo naquela conversa perdeu o rumo e, por um momento, nada importava mais do que o brilho sedoso daqueles cabelos brancos. Fiquei tão admirado que mudei o rumo da prosa. Pensei com ela que, se meus cabelos ficarem como aqueles, talvez eu não raspe mais a cabeça. Que cabelos lindos... Se os meus não estivessem esperando a maturidade pra uma doação, os descoloriria...


E de tanto falarmos da beleza daqueles cabelos, percebemos como eram iguais aos de sua mãe. Aliás, ela é a mãe da minha... E sua mãe me amava demais até os meus 3 anos, quando partiu... Suas últimas palavras pra minha mãe, foi pra que ela nunca brigasse comigo: "Ele é tão bonzinho!". Saudades da vó Rosinha...


Mas cá está a vó Iza! Bem na minha frente! Falando sobre efemeridades! E um dia não estará mais... Com seus cabelos brancos... Este foi, sem dúvida, um tempo bem gasto! E, ah! Que cabelos brancos...

terça-feira, 15 de junho de 2021

Tirando as teias de aranha...

É engraçado como as pessoas nos pedem por respostas que não querem ouvir: Perguntam por uma opinião sincera, mas esperam ouvir um elogio. Nos perguntam como estamos, mas só precisamos responder com um "Bem, e você?". Nos perguntam se temos planos, querendo que estejamos disponíveis.

Da mesma forma, a coisa que querem de nós, muitas vezes é diferente da que queremos dar: Querem amizade quando queremos dar amor. Querem que sigamos seus conselhos quando só queremos desabafar. Querem.

É engraçado como dizemos que estamos tristes e nos dizem que não podemos estar tristes porque temos corpos perfeitos e saudáveis enquanto existem doentes, amputados, deficientes... Estamos fartos enquanto muitos morrem de fome pelo mundo. Estamos em paz enquanto existem guerras no mundo. Paz... Hunf!

É estranho andar entre as pessoas e ver que elas são diferentes de você. Não falo da diversidade humana... Falo da singularidade. Humanos existem de todos os tipos! E a cada dia inventam mais. Chega a me irritar, as vezes. Quando eu era criança, se usava muito o termo "raça humana". Mas este termo já não existe mais. Não faz sentido no contexto do século XXI. Hoje a humanidade é uma espécie, e a raça é definida pela cor da pele, dos olhos, a quantidade e a qualidade dos cabelos... Se existe uma "raça humana", acho que os termos corretos pro povo que acha que são diferentes seria "corista"... Talvez "pelista"? "Olhista"? "Estúpido"?

No fim são todos iguais. Falam idiomas diferentes, mas existem em grupos. Conseguem se comunicar entre si. Quando eu era mais novo, sonhava em poder me comunicar. Por causa desse desejo, já estudei português, inglês, espanhol, francês, italiano, Libras, japonês e coreano. Mas todos esses idiomas eu desisti de aprender em algum momento. Talvez porque percebi que o meu problema de comunicação não tem relação com o idioma. Meu problema é que eu sou diferente. Eu não pertenço ao grupo. Eu não os entendo, e portanto, não consigo ser entendido.

Não estou dizendo que não tive companhia todo esse tempo! Ah, não! Tenho pais, irmãos, primos, amigos, colegas... Já tive esposa... Acho que desenvolvi minimamente ... suficientemente minhas habilidades sociais. Creio até que posso manter um diálogo inteligível por algum tempo. Consigo transmitir informações coerentes, embora nem sempre claras. Consigo compreender algumas nuances do trato humano. Mas isso não me torna um membro do grupo.

Então continuo existindo. Interagindo. Até convivendo. Mas sem atender a expectativas, enquanto diminuo cada vez mais as minhas próprias. Porque as palavras que escrevi em segredo, muitos quiseram ler, mas as palavras que eu disse em voz alta, ninguém quis ouvir. E porque quando a porta esteve aberta ninguém entrou, mas quando eu a fechei, começaram a bater. A direção pra onde aponto ninguém olha, mas quando sigo por ela me julgam. A fé que eu perdi me é cobrada, mas a fé que depositam em mim se baseia nas limitações de cada um.

Não sei por quê alguém leria o que escrevo aqui... Não vão me entender mesmo... Mas fiquem a vontade pra interpretar como quiserem. E se houver algo que eu possa desejar disso, é que terminem a leitura melhor do que começaram. Se não foi assim, não se preocupe. Apenas aconteceu que mais uma vez me leram errado.