terça-feira, 14 de abril de 2020

Era uma vez um reino.

Esse reino possuía imensas muralhas em todo o entorno, que mantinha seguros todos que moravam ali. Era como um imenso círculo de pedras e jóias. Um misto de ostentação e segurança. As pessoas que viam o reino de fora tinham todo tipo de sentimento ao verem aquele muro: admiração, inveja, espanto, curiosidade...

O fato é, que esse imenso muro não tinha falhas. E nem portas. Ninguém sabia como entrar nesse reino, mas todos que estavam lá dentro não tinham o desejo de sair. Vez ou outra, uma pessoa simplesmente surgia lá dentro, e era como se sempre tivesse morado alí. Tinha casa, sabia andar pelas ruas das vilas, sabia onde podia ou não entrar...

No centro desse reino, ocupando o que seria talvez um terço de todo o terreno, sempre houve um pequeno castelo. Olhando pelo lado de fora, ele não chamava atenção. Talvez tenha sido construído assim de propósito, ou talvez tenha sido construído do jeito errado, mas o fato é que poucas pessoas olhavam para ele, e menos ainda tinham vontade de entrar. E, de fato, não é qualquer pessoa que estaria preparado para o que reside alí.

Esse castelo não é apenas a residência do rei, mas também é onde ele guarda tudo de que tem mais orgulho, vergonha, medo... E pra proteger tudo que guarda ali, existe um labirinto tão elaborado, e vivo, que mesmo o rei se perde ao andar por ele. Se separando hora com o que procura, hora com o que se mete em seu caminho.

Tudo parece perfeitamente normal nesse reino,  e todos seguiam suas vidas, mas havia um segredo. Algo que, por mais grandioso que fosse, era ignorado por todos. Num dos cantos desse reino, havia uma mancha bem pequena. Um pequeno poço, do qual ninguém tomava conhecimento e cujo conteúdo ninguém sabe se inclui água.

Mas esse pequeno poço foi crescendo e se alargando. Ele foi tomando espaço dentro do reino e crescendo e se alastrando como se fosse uma praga. As pessoas que andavam pelo reino foram se afastando do poço, mas não percebiam o que acontecia. Logo uma pequena cerca de madeira foi colocada ao longo da beira do poço, mas ninguém via que o buraquinho que já foi pequeno, agora tomava metade do reino. Na verdade, olhando de cima, aquele reino que sempre foi um círculo imenso, parecia agora uma lua minguante, à medida que a sombra cobria o chão do reino.

Alguns anos se passaram, e as pessoas continuam a viver suas vidas, já que por decreto do rei, nada falta para nenhuma pessoa dentro do reino. E as pessoas continuam a não ver que o reino onde moram está sumindo, tomado por uma sombra terrível. E tudo que havia no lugar onde a sombra se espalhou sumiu. Tudo com uma excessão: o castelo do rei ainda está lá. Como que flutuando sobre um imenso buraco sem fundo. Um castelo bem visível, sob algo que não permite a luz passar. E ninguém se deu conta que o rei, a quem todos que moram no reino já disseram amar, está preso no seu castelo, sem rota para sair dele.

Do ponto de vista do rei, ele tem três coisas para ver todos os dias. Ele pode olhar para as memorias, para o que sobrou de seus planos, para os medos e para as ansiedades dentro do castelo. Ele pode olhar para as pessoas felizes ao longe, assistindo as vidas que continuam como se ele nunca tivesse sumido.

E ele pode olhar para aquele buraco sem fim. Aquela escuridão. Aquele desespero. A solidão que o cerca. E deve agora lidar com o desejo de descer e se deixar abraçar pelo esquecimento. Sabendo que quando ele enfim sumir, as pessoas vão continuar suas vidas como se ele nunca tivesse passado pelas vidas delas.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Solidão não é quando não temos pessoas ao nosso lado. É quando existe um vazio que as pessoas que amamos não podem preencher. Uma dor que queima constantemente nossa carne e que, ainda assim nos faz sentir frios. É um lago de piche no qual afundamos sem precisar de apneia. É desejar a asfixia do afogamento e só sentir nos pulmões, o ar.

Solidão não é sentir. Solidão é ser.

sábado, 4 de abril de 2020

De algumas histórias, tudo o que queremos é chegar ao fim delas.