quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Um novo dia pra uma nova história

Naquele dia, tudo era igual a sempre. Ele era diferente de todo mundo. Mas naquele dia, não importava, porque tudo estava recomeçando. Ele estava chegando numa escola nova. Numa cidade nova. Logo se mudaria para perto dali. Tudo estava de acordo. Nada em seu passado importaria. Viraria mais uma página, mas dessa vez para dar início a um capítulo completamente novo. Pelo menos foi o que pensou, naquela manhã de uma quinta-feira.

"Que droga de ideia é essa, de começar o ano letivo numa quinta-feira?" pensou. Mas foi um lapso momentâneo, e logo voltou a pensar em quantas coisas precisava deixar para trás. Era apenas um nerd sem nome e sem rosto, de quem ninguém se lembraria em sua outra vida. Mas tinha aprendido a deixar a sua marca. Certamente seria lembrado, dessa vez. Faria de tudo pra que, daquele ano em diante, onde quer que passasse, fizesse pelo menos um amigo. E essa era a diferença fundamental para o sucesso de seus planos mais novos.

Quando se deu conta, já estava na escola nova, olhando ao redor, e procurando saber como funcionava esse novo universo. Tratou de seguir a multidão até a quadra poli-esportiva do novo colégio, procurando informações sobre qual sala de aula deveria procurar. Teve tempo suficiente para memorizar alguns rostos, e sentir a presença de algumas pessoas das quais decidiu que não se aproximaria. Encontrou também alguns rostos que já havia visto, mas não saberia dizer onde ou  quando. Encontrou uma folha com dezenas de nomes começando com suas iniciais, e logo descobriu a que sala deveria se dirigir, mas isso não ajudava muito, já que não sabia onde ficavam as salas de aula naquele colégio. Seu raciocínio estava muito acelerado, para o esperado, já que foi a primeira vez em algum tempo que acordou cedo, e não conseguia parar de comparar expressões e criar expectativas sobre cada pessoa que conseguia memorizar. Viu uma menina muito bonita, que lhe chamou a atenção rapidamente e concluiu "está aí uma pessoa que provavelmente não será minha amiga".

Não é que sua auto estima fosse tão baixa. Mas a vida lhe ensinou que quando alguém do sexo oposto tem tanta beleza, geralmente fica cercada de pessoas do sexo masculino que querem algo que ela finge não saber o que é. Sem contar nas garotas que parecem ser amigas dela. Muito enfase na palavra PARECEM. Seria perder tempo continuar focando nela. Encontrou outros rostos bonitos, mas nenhum lhe deu a sensação de que dividiriam a mesma sala de aula. Algumas pessoas mais velhas, outras mais novas... Algumas até pareciam ter a idade certa, mas não lhe davam a sensação que conviveriam muito.

De repente olhou para o relógio e, embora não parecesse ter passado mais de vinte minutos que estava ali, tinha a sensação de que estava tempo demais num lugar só. Todos começavam a se dirigir para algum lugar, menos ele. Olhou ao redor, para ter a certeza de qual o caminho que levaria a algum lugar, e deu uma última olhada antes de o seguir. Viu entrar pela porta uma pessoa que lhe chamou a atenção. Era, de algum modo familiar, mas não pelo rosto, ou pela forma de se mover. Então como será que essa pessoa parecia já ter passado pela vida dele? O movimento parou no começo de um corredor mais estreito, o que o fez perder o pensamento. Finalmente avistou uma plaquinha:


Salas
1 - 8   >
9 - 16 <

Seguiu pelas escadas antes desse corredor, e chegou a mais um corredor. Ao final, uma parede de tijolos. Teve a impressão de que veria algumas portas se seguisse até o final, mas prestou mais atenção no outro lance de escadas. Deduziu que a sala que procurava (número 6) não estaria no alto daquela escada, então seguiu para o fim do corredor, achando uma porta à esquerda, com o número 6 acima do batente.

A primeira coisa que notou ao entrar, foi que a menina bonita estava lá. Sentada exatamente no meio da sala. A segunda, é que estava atrapalhando a entrada de alguém atrás de si. Tratou de procurar uma cadeira desocupada entre a menina bonita e a saída. Não seria uma ideia muito inteligente se aproximar dela. Sentar-se muito atrás não ajudaria a fazer amizades muito úteis, e isso ele já havia descoberto no mais-que-perfeito. Também escolheu aquele a primeira cadeira da fila, porque facilitaria a saída em caso de qualquer necessidade. Não que não considerasse também a adaptação aos novos óculos.

Olhou em volta, pensando em como cumprimentar as pessoas, mas seus olhos pousaram em outra pessoa que definitivamente lhe chamava a atenção. Alguém que, pela segunda vez, emanava aquela energia conhecida, mas que não poderia adivinhar quem era. Era bonita, também, mas não foi isso que importou, naquele momento. E então uma decisão mudou o rumo da sua vida naquele momento, até o dia de sua morte: ele foi se apresentar. O seu instinto não se enganou daquela vez. Seriam amigos para sempre... (exceto por aquela vez, que não vem ao caso, quando estamos contando o começo dessa história).

O nome dela: Estrela. O erro: Sentar-se ao lado dele. Em qualquer outra situação, ela estaria livre de um amigo que teria de carregar até que a vida adulta os alcançasse.


***


Será que essa história tem continuação? E será que virá parar aqui? E quem será o protagonista da narrativa?


***


Fui!

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